A Série B vem ganhando sucesso, público e espaço na TV. Mas a fórmula prejudica os clubes de maneira geral.O Guia do Brasileirão Placar 2003, aquele que Botafoguenses e Palmeirenses ainda devem ter calafrios quando vêem, traz uma tabela dupla - na frente, Turno e Returno da Série A. No verso, Turno e Returno da Série B.
Inicialmente programada para ser disputada nos mesmos moldes da Série A, os dirigentes dos dois medalhões que desceram no ano anterior, Sr. Bebeto de Freitas pelo Botafogo e, especialmente, Sr. Mustafá Contursi do Palmeiras, apelidado pela torcida alviverde como "Corinthiano" - e que chegou a insinuar uma virada de mesa, exigiram que a fórmula fosse alterada. Assim, uma tabela simples de turno e returno mudou para um campeonato de turno único com dois quadrangulares semifinais e um quadrangular final - uma tabela arrumada para facilitar a subida de Palmeiras e Botafogo para a primeira divisão, como se comentou em toda imprensa especializada na época - a exceção da Globo que, claro, gostou da fórmula onde poderia criar uma "final". E foi o que aconteceu.
O tempo provou que, num campeonato de turno e returno, Botafogo e Palmeiras subiriam com mais facilidades que nessa fórmula turno-quadrangular-quadrangular. Ou seja, os méritos das duas equipes não devem ser tirados. Palmeiras e Botafogo ganharam seus lugares de volta na elite com muito mais honra que o Fluminense que entrou pela tangente da Copa João Havelange, e que o Grêmio, que subiu em 92 com uma fórmula que classificava 12 clubes a Série A.
Todo o problema dessa fórmula que entrou no lugar dos pontos corridos é que na metade do ano, temos mais da metade das equipes que formam a Série B desocupadas - e com uma folha salarial para ser cumprida até o fim do ano. O que acaba levando a dispensa de jogadores... esse ano mesmo, acabam de ficar inativas o Sport Recife, Ituano, Vila Nova e Paulista, entre outras, até a próxima temporada. São quatro meses de inatividade que prejudicam todas essas equipes - perdem dinheiro com quotas de TV, com a receita de ingressos, com patrocinadores...
A fórmula atual pode ser interessante para TV, porque, se não tem uma final fechada, tem uma mini-decisão entre quatro equipes. Mas a CBF tem que repensar qual será o melhor caminho para a saúde financeira das equipes brasileiras. Cair para a segunda divisão já é um baque muito grande - principalmente porque na Série A o time tem mais exposição, embora nem sempre tenha uma quota de TV ou patrocinadores justos. Vide o que aconteceu com o Bragantino, que depois de cair para a Série B desceu para a C e até hoje jamais se recuperou. Alguém sabe do Bragantino? Série A2 Paulista?
Uma Série B mal-feita, com quatro meses de inatividade é igual a prejuízo financeiro, o que pode enfraquecer ainda mais um time pra próxima temporada - e aí acontece o que aconteceu com Vitória, Bahia, Criciúma...
Enquanto isso, a velha tabela Turno-Returno da Série B que jamais chegou a acontecer está aqui guardada. Sem dúvida, significaria mais saúde para os clubes. Talvez fosse menos interessante para a TV. Mas a CBF não pode pensar só em televisão - deve favorecer aos clubes, igual está acontecendo na Série A. Não é dever de um governante agradar a gregos e troianos?